HÁ 4 ANOS, DERICK VEIO COM SEU PAI PARA CASA HOPE APÓS UM TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA E DEU SEU RELATO:

“Há 3 anos eu estava ganhando 12 ovos de Páscoa. E “num hospital”.

Eu estava com o meu pai em São Paulo para tratar de um câncer que ele tinha (e já se curou) e nos hospedávamos na Casa Hope. Um casa de apoio à crianças com câncer. Mas que também recebe alguns poucos adultos.

Foi uma coisa muito diferente pra mim… ainda mais pro meu pai… É pra qualquer um na realidade.

O Govermo de Minas, não dispondo de um centro do oncologia como o do Hospital das Clínicas de São Paulo, pagou para que meu pai fizesse um transplante de medula óssea por lá. Tudo pelo SUS. Tudo da melhor qualidade.

Também é importante relatar que pra gente foi tudo muito bem encaminhado, depois de uma fila de anos, mas é visível que não ocorre bem para todos. Brasil é um país para poucos.

Como meu pai só dormiria no hospital uns 20 dias após o transplante da medula óssea, fomos para uma casa de apoio. Acredito que seja a melhor. A Casa Hope.

É sempre necessário um acompanhante para ficar na casa de apoio. Foi uma das atitudes mais firme que tomei na vida. Percebi que seria muito importante pra vida do meu pai e pra minha também. Me senti preparado e falei pra minha família que eu o acompanharia. Era a melhor configuração para todos.

Por conta do tratamento ter um tempo mínimo de 3 meses, eu acabei estruturando meus afazeres na Agência Métrica de uma maneira que eu pudesse me dedicar verdadeiramente ao meu pai.

Foi algo tipo esta quarentena.

Eu não veria amigos. Não sairia não ser ir pro hospital. Não comeria fora. Padrões de limpeza nível estéril. Encararia um período cheio de incertezas. Minha ligação com Deus se reforçaria. Minha ligação com a ciência se reforçaria. A clareza da mente seria valorizada.

Meu papel foi ser tradutor da ciência e apoiador emocional. O tratamento machuca muito o paciente. Física e emocionalmente. E eu tava ali pra lembrá-lo que todos estes desconfortos estavam de acordo com o esperado. Se estava assim era porque estava dando certo.

Adendo importante: eu estava na melhor casa de apoio do Brasil. O ambiente da Casa Hope é sensacional! Lá é uma grande casa que acomoda mais de 100 pacientes de cidades de todo o Brasil. Conheci muita gente.

Eu poderia falar muito sobre lá. É como uma empresa 24h a serviço do cliente. O paciente. E tudo com dinheiro de doações. A disciplina fazia parte da segurança do ambiente. Tá vendo… eu disse que parecia muito com esta quarentena. Só que ainda mais rigorosa.

Exemplo: após cada uma das refeições alguns acompanhantes eram escalados para fazer uma limpeza completa do refeitório.

Todos os quartos, corredores e banheiros tinham que ser limpos todos os dias. Banheiros e corredores era 2 vezes ao dia.

Acordava-se cedo pra fazer isto tudo, pra 9h pegar a Van que leva pro Hospital.

Foi tudo ótimo. Não doeu como as vezes dá pra se imaginar. O tempo era ocupado. A energia de todos era só uma, de esperança, garra e fé.

Eu fiquei bem amigo de umas 10 crianças.

De alguns muito mais, como o Miguel que na hora da despedida na minha volta pra casa, depois de meses jogando no meu iPad comigo, me deu de presente o seu primeiro videogame da vida. Um minigame do Ben10.

Ninguém abraçava ninguém. Todos os pacientes de máscaras e que eram trocadas algumas vezes por dia.

Todo mundo ajudando todo mundo (“quando a máquina terminar de bater você me avisa lá no meu quarto, por favor?”).

Dias antes da Páscoa começaram a chegar ovos de tudo quanto é marca que fazia doação pra lá. Meu pai, chocólatra que sempre foi, não tinha a mínima vontade de comer. Depois de tanto remédio o paladar fica “metalizado”. Sente gosto de metal em tudo. Todos os pacientes mal conseguiam comer.

Mas TODOS comiam. As vezes 3 colheradas. Melhor do que 2 como as vezes tinha sido na refeição anterior.

Pode parecer lirismo de texto, mas eu verdadeiramente aprendia com esta determinação deles e do meu pai.

A energia era uma só. Todos eram levados a repetir o que todos os outros faziam. Catarse. Com muito esforço comiam, andavam o mínimo necessário, dormiam, pensavam positivo…

Hoje estamos batalhando numa quarentena.

Alguns não podem. Os que podemos, fazemos nossa parte também. Não maior nem menor, mas todos de maneira a mais responsável possível.

Eu, como na quarentena que vivi há 3 anos, prefiro caminhar no otimismo e gratidão por poder vê-lo. Porque a tristeza não há como esconder. Só é preciso deixá-la no lugar dela e seguir. Batalhando!

Esse texto ia falar sobre 12 ovos de Páscoa.

Mas assim que comecei a digitar, vi que ele deveria ter começado com “Há 3 anos eu estava em uma quarentena”. Agora fica assim. Agora é estilismo de texto.

É claro que, como nesta quarentena, eu agradeço aos médicos, enfermeiros, cientistas, psicólogos, recepcionistas, assistentes sociais, motoristas e uma inenarrável equipe de seres humanos que vivem também pelo outro.

Tanto no masculino, quanto no feminino.

Tanto no material, quanto no espiritual.

Também agradeço a Deus por ter ajudado meu pai a ter forças para ter conseguido sair desta com a ajuda de todos.”

Derick e seu pai, Donizete, paciente da Casa Hope.

Compartilhe
Comments are closed.
Casa Hope - Sede - Alameda dos Guainumbis, 1027, Planalto Paulista - São Paulo-SP - 04067-002 - Tel: (11) 5056-9700
Bazar Permanente Casa Hope - Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 918, Vila Mariana - São Paulo-SP - 04014-002 - Tel: (11) 5084-7111
Todos os direitos reservados à Associação Pró-Hope de Apoio à Criança com Câncer.
CNPJ: 02.072.483/0001-65

© 2019 All Rights Reserved